quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Na porta da elite, Brasil é barrado de novo pela Argentina e volta para casa

  Pegar o elevador com os melhores já era missão cumprida. Com jogos de igual para igual, vitórias emblemáticas e feitos impensáveis até pouco tempo atrás, as coisas caminhavam bem, obrigado, para o basquete brasileiro. O problema é que, na entrada da sala VIP, onde só os gigantes circulam, sempre tem um segurança chato e catimbeiro, que insiste em sorrir com o canto da boca, coçar as costeletas e decretar em sotaque portenho: "¡No pasarán!". Nesta quarta-feira, o Brasil foi barrado ali outra vez. Com uma derrota doída por 82 a 77 para a carrasca Argentina, a seleção de Rubén Magnano se despede das Olimpíadas de Londres. E continua procurando uma maneira de se esgueirar pela porta que leva à elite da bola laranja.
  Pela primeira vez jogando na Arena North Greenwich, que passa a receber o torneio na fase decisiva, o basquete masculino do Brasil perseguia sua primeira semifinal olímpica desde 1968, quando ficou em quarto lugar. Não deu. Ok, o jejum de 16 anos sem participações nos Jogos foi quebrado, a evolução na quadra foi evidente, mas o tal segurança marrento estava lá de novo, e por trás dele vinham Scola, Ginóbili, Nocioni, Delfino, Prigioni, gente acostumada a castigar quem veste verde e amarelo.
  - Tínhamos a expectativa de ganhar, e isso não é uma justificativa, mas estou muito orgulhoso de ter defendido o Brasil nos Jogos Olímpicos. É uma honra trabalhar com esse grupo de jogadores. Infelizmente, nosso sonho acabou, mas temos um novo apetite para o futuro. Todos viveram uma grande experiência aqui, inclusive eu, que já disputei as Olimpíadas antes. Temos que sair do vestiário com a cabeça boa - afirmou o técnico Magnano, que, ao lado de Guilherme Giovannoni na entrevista coletiva, mostrou-se surpreso quando soube que os jogadores não voltaram do vestiário para a zona de entrevistas, como de hábito - falaram apenas com as TVs. O drible lembra o que aconteceu após a eliminação no Mundial de 2010, contra a mesma Argentina, quando só Tiago Splitter passou para dar declarações.
  Como não há disputa de quinto a oitavo em Londres, resta aos brasileiros tomar o avião de volta. Assim como fez após cruzar com os hermanos no Pré-Olímpico de Las Vegas em 2007, no Mundial da Turquia em 2010 e na final do Pré de Mar del Plata no ano passado. A Argentina avança para enfrentar os Estados Unidos, a não ser que a zebra australiana apronte no confronto das 18h15m (de Brasília). Na outra semi, Espanha e Rússia medem forças.
   Ponto forte do Brasil, o garrafão falhou na hora da verdade. Tiago Splitter fez apenas seis pontos, Varejão fez quatro, e Nenê adicionou sete. Com aproveitamento muito abaixo do esperado nos lances livres, acertando apenas 12 dos 24 tentados (50%), o Brasil também chutou mal de três (7/23). Magnano lamentou, mas disse que não há o que fazer durante o período de treinos do grupo.
   - O aproveitamento de lances livres só tem uma solução: treinar lances livres. E não se treina lances livres em 45 dias de concentração, se treina em 365 dias nos clubes - disse o técnico.
  Na gigantesca North Greenwich, ocupar os 20 mil lugares é tarefa árdua para qualquer multidão de basqueteiros. Sobravam lugares azuis vazios nas arquibancadas, mas a parte de cima, mais barata, estava cheia. Foi lá que os argentinos se empoleiraram para cantar o tempo todo, como de hábito. Lá de longe, viram Splitter ganhar o primeiro duelo com Scola, no tapinha inicial. No fim, o argentino triunfaria, mais uma vez como cestinha da equipe, com 17 pontos, seguido pelos 16 de Delfino e Ginóbili. Huertas e Leandrinho comandaram o Brasil com 22 cada.
  Foi Huertas que tratou de fazer a primeira cesta com pressa, numa prévia do que estava por vir no período inicial. Scola logo deu o troco com um arremesso por cima de Tiago. Terminou o período com seis pontos, sem errar um chute sequer, mas com duas faltas. Leandrinho também fez suas duas e pouco depois foi para o banco. Mas não fez falta como cestinha, porque Huertas colocou o ataque nas costas. Com 13 pontos, o armador manteve o Brasil à frente quase o tempo todo. Quando Delfino acertou duas seguidas de três, ele respondeu na mesma moeda. E o quarto só não terminou de forma espetacular porque o arremesso de Larry Taylor do meio da rua, no estouro do relógio, carimbou o aro. Para o Brasil, estava bonito: 26 a 23.
    Com a mão certeira de Delfino, que pulou para 11 pontos, a Argentina abriu cinco no início do segundo período. E a torcida cantava, cantava, cantava, ignorando a trilha sonora pop a cada bola parada. Nenê enfim se soltou com uma cravada a dois minutos do fim, mas na defesa não conseguia impedir os arremessos de Scola e Juan Gutiérrez. Huertas ainda brilhava no ataque, com 17 pontos antes do intervalo, mas o resto do time não conseguia acompanhá-lo. Leandrinho, figura quase nula, errou dois lances livres a dez segundos do fim do primeiro tempo. E a atuação verde-amarela despencou de nível. Com 14 de Delfino e dez de Scola, os hermanos foram para o descanso vencendo por 46 a 40.
   O placar até que não tinha fugido do controle, mas ficou a impressão de que o Brasil esqueceu de voltar para o terceiro quarto. Ligada, a Argentina jogou a vantagem para oito com uma cesta de Nocioni e para dez com uma bandeja de Ginóbili. Chegou a 12, enquanto do outro lado Alex errava bandeja, Leandrinho entortava os arremessos. Magnano ainda tentou mudar lançando Marcelinho Machado, mas não adiantou.  O que era uma diferença ameaçou se transformar em abismo quando chegou a 15. Para evitar o pior, a seleção ainda cortou para oito, mas nada além disso. A última bola, de Leo Gutiérrez, ainda ficou encravada entre o aro e a tabela. Igualzinho ao basquete que o Brasil jogava naquele momento. Na virada para o último período, Argentina 64 a 54.
   Veio então uma sequência emblemática. Com a chance de cortar para cinco pontos, Machado soltou um arremesso de três em que a bola se estatelou na tabela, sem sequer rapar no aro. Do outro lado da quadra, Scola soltou uma bola suave de chuá e abriu dez de novo.
   Ainda assim, a diferença foi caindo. Para quatro com uma cesta de Nenê, na marra. Podia ter ido a dois se Leandrinho não tivesse errado uma bandeja absolutamente livre, mas Alex consertou a lambança em seguida: 70 a 68, faltando quatro minutos. O problema é que, na sequência, o próprio Alex fez uma falta de ataque e chutou torta uma bola de três. Magnano chamou o time para conversar com 2m27s no relógio, meia dúzia de pontos atrás.
   Leandrinho calibrou a mão e acertou de três. O jogo ficou tenso, com os dois ataques pensando duas, três, quatro vezes antes de definir. Tanto que já no minuto final, Huertas teve de forçar um tiro de três, que mal bateu no aro. Manu, com a calma dos seus 35 anos, guardou dois lances livres para abrir cinco. Scola fez o mesmo para abrir sete, depois nove. Estava selado o destino brasileiro em Londres. E o cenário não era muito diferente do que vinha acontecendo nos últimos anos: campanha digna que esbarra no incômodo sotaque castelhano

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